segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Carta ao prefeito Jandir Bellini, protocolada na ouvidoria
PT Itajaí02:48 1 comentários

“Me deves respeito,Pelo menos dinheiro”
Da música Kriptônia de Zé Ramalho

Continuando a carta da Valéria (magra do teatro)...
Utilizando este meio não tão arcaico, mas já ultrapassado na era do email: a carta.
Escrevo aqui esta carta aberta a quem interessar possa; ler uma reflexão que escrevo como professora da rede pública municipal de Itajaí ao prefeito Jandir Beline.

Sou professora de arte numa unidade da rede que trabalha com alunos no contra turno escolar, ali eles estão no período contrário da escola para as oficinas de arte, Ed física/xadrez, “reforço” de português e matemática, almoço, lanche, além de outras atividades... Assim a escola acaba o serviço que os pais começaram, buscando não só o ensino, mas uma educação integral que a família do século 21 não pode mais oferecer. Nós professores somos entusiastas e utópicos por natureza (quem não o é talvez deva repensar na sua vocação), acreditamos na educação até quando atravessamos o deserto mais hostil, mais abandonado. Acreditamos na poesia e no pão, e fazer educação aqui, é esculpir mármore com garfo do um nove nove.

A disciplina de artes, que escrevo aqui como meu oficio há 23 anos (felizes), nunca foi a mais privilegiada, seguindo os moldes do colonialismo burguês europeu, das academias de Belas Artes: Artes???Tu só fazes isto?Só desenhas? Só pintas? Que vida boa!...(gostaria de desenhar esta cena), ainda que ouvisse na escola, quando o aluno não tinha nota, não porque tirava nota baixa, mas porque não entregava nenhum trabalho, a diretora ironicamente perguntava: Professora, ele não sabe fazer boneco palito????Hoje adquirimos um pouco... Um pouquinho mais de respeito, mas ainda desenhamos com o dedo no ar e imaginamos figuras nas nuvens em céu de brigadeiro, porque o meio que são os materiais não chegam à escola. Chegam alunos que sabem chamar o professor de Sôra ou de vagabunda branquela. (elogio que recebi de uma aluna afro descendente!),alunos com e sem problemas, alunos que querem participar outros que vem para “apavorar”, alunos que vem pela merenda, outros que jogam fora oportunidades da única refeição do dia.

NÃO HÁ MATERIAL PROFESSORA!
Nossos NECs são depósitos de crianças e adolescentes ávidos de conhecer, precisam de tecnologia e de acesso aos códigos eruditos, precisam “saber da piscina, da margarina da gasolina...” (Caetano Veloso). Mas os meios para chegar ao ensino passa pela qualificação de professores, pela motivação, por condições de trabalho aos professores, que pagam para não ter lápis grafite ou tesouras. O que se faz com uma turma de trinta alunos, quando se tem dez tesouras e cinco lápis grafite? Quinze trabalham e os outros????A disciplina passa por ai, mas quem liga para disciplina ou para a ética...

Resta-nos contar história, da arte. (que não é nada mal) mas não é o essencial, artes plásticas têm na sua essência a manipulação de materiais, alterarem sua química, sua física, sua plasticidade e assim expressar-se, comunicar.

Então tento explicar aos meus alunos, que PAGUEI este material, entre tantos ISS, INSS, ICMS, IPTU, até naqueles chicletes de sessenta centavos tem um lápis embutido que eu não pude ceder ao meu aluno (jamais dar, tem que devolver!), porque eu não o tinha!Meus direitos e dos meus alunos, de seus familiares e de muitos profissionais da educação, são as sombras da caverna de Platão, que a verdade não é real. Alias as escolas se tornaram cavernas de tão ultrapassadas, esta na hora de rever muitos conceitos no ensino público e parar com essa demagogia imbecil e burra. Portanto Senhor Prefeito, deves respeito, pelo menos dinheiro a todos que acreditaram em você, a mim não deves nada, pois continuo esperando o material e a consciência política na minha escola utópica no limite entre a miséria e civilização. Onde o mundo se esqueceu dele mesmo.

Em tempo, nas minhas escolhas profissionais, sou de forma “filiada” a duas pastas do seu secretariado que hoje estão mais depredadas, a cultura e a educação, não desmerecendo as outras, considero as mais importantes além destas, a saúde, mas fique tranqüilo... Tenho plano de saúde, assim como muitos amigos de trabalho, que deixam de comprar livros para pagar o plano de saúde.
Tenho escrito.

Prof°. Ma. Silvana Maria da Rocha
Artista Plástica e Professora de arte
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